domingo, 13 de julho de 2008

A mão esquálida

Horário de aula, três meninas foram ao banheiro do colégio: tudo em nome do medo. A fissura pelo medo é alucinante, viciante e mesmo as crianças sabem disso. Crianças são, na verdade, criaturas mui, mas mui mórbidas...

Adentraram no banheiro, as três, com péssimas intenções. Trancaram a porta, abriram as torneiras e as tampas dos sanitários, acionaram três vezes as descargas e xingaram palavras que sequer conheciam a significância literal (achavam interessantes apenas pelo fato de serem proibidas). “Isso é o bastante” disse uma delas, “Agora é só esperar, creio!”, emendou sem poder conter-se.

Passou longos minutos, o silêncio mórbido da expectativa entre elas. Uma das garotas olhava atentamente para o teto, com um antigo e perpétuo buraco; outra tentava manter os olhinhos em varredura, temendo que fossem surpreendidas pelo monstro evocado; a última, a líder, tentava manter a calma e domar a própria excitação. Diversas vezes o silêncio era quebrado pelo gotejar da água nos velhos chuveiros... mas nada de inexplicável aconteceu.

* * *

A ‘líder’, impassível, chegou à casa indignada aquele dia. Contou à mãe convencionalmente cética o que acontecera e recebeu como resposta apenas: “o sobrenatural não existe, minha filha” e decidiu fazer de novo pra ter certeza...

Quando abriu a porta do banheiro e acendeu a luz, lá estava uma mulher pálida de lábios carmesim, repleta de ferimentos cobertos por tufos de algodão!Ela olhou para a garota, aqueles olhos escuros, e gélidos que exprimiam algo na linha tênue entre maldade e sofrimento. A mulher desapareceu numa espécie de rajada de vento, no segundo em que a menina piscou os olhos, incrédula. A propósito, o coração da guria acelerou de tal modo que seus pés descalços pareciam estar grudados no azulejo e que seu corpinho era uma pesada peça de mármore. Ela sabia que o monstro viera do teto, onde se escondia... Isso porque são mitos, e mitos não passam de verdades omitidas para não assustar a humanidade... mesmo porque, todos sabemos que a primeira vez é um mero aviso e a outra tem outra conotação.

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