quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A PRISÃO SEM MUROS
por Anne Caroline Quiangala

As cortinas se abrem...
- como se o mundo fosse avulso-
Eu caio, me precipito...
planam o amor, a dor,e o ódio
e, talvez, a minha ira desencarnada.

..Enquanto houver quem acredite
existirá.
...enquanto a dor não consumir
existirá.

Fantasma a ser extirpado
prazer a ser conquistado
anoite vem, tão lenta, passageira
o frio conforta, aconchega...

o calafrio é forte
a dor, aos poucos, aumenta.
dor que a morte contenta
pecado mortal, vil, a lazarenta.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

CULT CULT CULT, A MODA ALTERNATIVA.

"Se há várias explicações igualmente válidas para um fato, então devemos escolher a mais simples".

"Pluralidades não devem ser postas sem necessidade"

"As entidades não devem ser multiplicadas além do necessário"

(Principio de Occam)

Ah, Carol ama estereotipar.

Ué, mas não é que é mesmo?!

Nunca fui lá uma garota ‘algo wear’, entretanto, hoje em dia, meus olhos só conseguem ver uma coisa: cult!cult !cult! Tia Brut me diz que é coisa da minha cabeça, mas tenho culpa se TODO MUNDO está confinado em um ideal de padronização imposta?

Não vou criticar o capitalismo e não, não quero parecer politizada (mesmo porque não sou), mas, creio que não é impressão minha que ‘contracultura’ pós-punk é uma coisa que tem arrecadado muito dinheiro, movimentado bastante o mercado. Estou mentindo? Basta ver pelas ruas as pessoas todas em suas ‘cultisses’: óculos quadrados de armação delgada (quase sempre preta), corte de cabelo ‘ousado’, quase sempre tingido de preto, roupas estilo ‘Los Hermanos’ (jeans, pólo listrada ou xadrez, all star ou o que for mais ‘cômodo’ –e cult- para os pés etc etc que convenha).

Mas que diabos é cult?

Pois é, segundo a wikipedia sobre rock alternativo:

“(...) não têm necessariamente características em comum, sendo o termo usado para qualquer som que se aproxime do rock, mas que, porém, não se encaixou em nenhuma de suas vertentes (...)”.

Sei lá, pra mim cult é um conceito tão livre que se pode colocar o que bem entender. O que tenho visto com freqüência: normalmente pseudo-intelectual, pseudo-básico.. e uma vasta série de pseudismos.Coisa de universitário que, como qualquer outra contracultura, se estende para as ruas, aos “meros mortais”.Visual arrojado e ‘modernoso’(vide os otakus que são um dos subgrupos).

Ahhh, e eu não me importo se você é cult e não concorda, afinal, qual emo admite ser emo?Estou apenas a manifestar um pensamento meu. Sorry.

PS: só escrevi esse texto porque a Tia fica dizendo que eu acho todo mundo cult. Não que eu tenha algo contra ou a favor.

PS2:Cult, alternativo e indie se mesclam, a meu ver, ferrenho e superficial. È claro que não vou perder tempo pesquisando assiduamente sobre já que posso usar as minhas concepções duvidosas.

PS3: Hoje em dia um bom lugar pra aprender sobre isso é a MTV.Na minha época de assistir não tinha dessas coisas.

Epígrafe num oferecimento “Renatoth” – se é que entendi mesmo o significado – matemática da teoria à prática.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Divagações de uma ET

Isso não é pra mim...

“o vinho modela os caráteres.Ele é capaz de produzir os estados da personalidade, e isso gradualmente. Pode-se indicar, de acordo com a quantidade de bebida tomada, uma evolução dos caráteres e dos comportamentos. “

Aristóteles – O Homem de gênio e a melancolia (o problema XXX, 1).

O livro acima, eu li na oitava série e trata de uma teoria acerca de pessoas melancólicas que, no caso, são pessoas de exceção, gênios. Dessa forma: essas pessoas atingem diferentes níveis emocionais como um indivíduo que se embreaga, em diferentes níveis, polimorfamente, por assim dizer. A embriaguez é uma metáfora para uma ocorrência fisiológica, mas o enfoque que desejo para o que segue, é, em relação ao álcool mesmo.

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Definitivamente. Você tem que conhecer as pessoas certas. E, muito embora eu esteja falando disso, não quer dizer que tenha aprendido. Não mesmo. Hoje eu cheguei próximo ao que se chamaria de fundo de poço. Aliás, não eu, mas é aquela coisa: está no barco, afunde com ele?!Não quero parecer hipócrita, mas... é verdade isso.

Quando pessoas que pretendem ter banda com você chamam pra sair, mesmo que seja o buraco mais underground ever dessa roça... você vai.Não colocando a culpa na ‘roça’ mas...Mas não, Tia Brut sempre fala: não fale com emos, não seja amiga de ‘roqueiros’, sequer saia com esse povo...e o que eu faço?Bem, ela também fica dizendo que eu chamo todo mundo de ‘cult’ e de ‘alternativo’, o que, no fundo, quer dizer a mesma coisa. E eu acho mesmo: óculos com armação quadrada e delgada, preta, cabelo visivelmente tingido de preto, roupas da moda e... falarei disso em hora oportuna.

Voltando ao madrigal (ou elegia, como preferir) ‘isso não é pra mim’:fomos ver a banda do namorado da suposta vocalista da minha suposta banda de ‘gothic metal’. No tal lugar underground encontramos a fauna típica: metaleiros, roqueiros, thrashers, black metal trooo, góticos, emos e “gente como nós”.Tocariam bandas de grind, gore, black metal(argh 3vezes) e power (ufa?!).Ah, mas, para minha alegria havia uma banda cover de Sarcófago, e eles tocaram ‘Midnight queen’ (uma bosta,mas, pra quem não viveu nos anos 80, fiquei feliz já, óbvio)

Nesses ‘rocks’ undergrounds tudo é bem liberado e, acostumando-se a freqüentar tais ambientes, chegamos ao nível de não nos ‘dar-mos conta’ de certas coisas que se passam – coisas que, aliás, não nos dizem respeito...?!

De fato eu li o Problema XXX de Aristóteles, e claro, não me ative à guria ‘suposta vocalista’. Dezesseis anos, vida desregrada. Minha atenção era totalmente voltada às bandas, e, nos intervalos, à TV que exibia show do Slayer e do Deicide. Não me dei conta de cada dose de vinho, de cada copo de cerveja que me era oferecido, mas dos quais recusava com um simples gesto de cabeça, atônita pelos shows, e que a garota sorvia só. Não me dei conta do que se passava com ela; “se precisar de mim estou aqui” ela repetia milhares de vezes. Na hora eu vi como paranóia, afinal, quem era a maior de idade era eu. Depois fiquei divagando se, por acaso, isso contivesse um bruto anseio dela mesma, de ser cuidada, de ser protegida. Mas nada tão sério, tão profundo.

Nas idas e vindas dela, a escala de ebriedade se tornava mais e mais alta.

Não percebi. Por que não associei a alegria dela à teoria? Por mero descuido?Falta de zelo? Seria uma falta, descaso? Eu não me importava ou se tratava de total e macabra falta de altruísmo da minha parte? Hum, talvez eu não seja o anjo que imagino ser, entretanto, como disse Aristóteles (discurso livre): nada é, em si, absoluto, uno, as coisas são todas multifacetadas, até mesmo (de certa forma) cubistas – se é que me entende. Nada é apenas aquilo, tudo é relativo e mutável.

OK, ela bebeu, e muito. Deu vexame e tudo, mas o namorado agüentou as pontas na boa. Logo ele a quem ela queria deixar ou trair, ele se importa com ela. Detecção de mais um dos ‘males’ que afligem o ser-humano: mania de desvalorizar aquele que, realmente, o valoriza. Enfim, ela foi passando pelos estágios, pelos caracteres possíveis, e , quanto a mim, obeservava como se tudo estivesse sob controle, afinal, não sou do tipo que se alarma.

Íamos para casa. Enquanto esperávamos a carona, a garota começou a passar mal. Estava em plena crise de asma, mas, ainda sim, queria conversar com o outro ‘suposto guitarrista’ como se fosse “... a única chance”. Nisso iniciaram os desmaios, veio o desespero geral.Aí sim, me dei conta da ópera.A cada amolecer e voltar, ela parecia pior.Estava na iminência de coma alcoólico, e o namorado, maior de idade, na iminência de ser preso, porque seria o responsável por ela. Era tarde, eu sentia que poderia ficar pior. Por fim, vomitou. De início algo, mas, pra quem não tinha almoçado, restava vomitar a bile.

O calvário Apoteótico – de alguma forma eu sentia que, a qualquer momento, em meio àqueles desmaios e regressos, ela acabaria por afogar-se no próprio vômito.Conseguia vê-la morrer...ela parecia estar morrendo.Parecia que, a cada desmaio, a cada arfar asmático, a via se desprendendo do mundo pra sempre.

Eu queria dizer pra ela algo que a ajudasse, mas, é possível que seja mensagem para o vento. Queria dizer algo sem parecer uma tola pseudo-burguesa. E eu diria algo assim: “Ei moça, você tem que lembrar que não tem pai e mãe. Tem que lembrar que o seu namorado se importa com você, que pertence a uma boa família. Não sei se é falta de instrução, mas, a sua concepção do que é ser mulher deveria ser expandida. Ser mulher é muito mais que ser virgem ou não, muito mais que se entregar à “liberação”. Não quero dizer o que deve ou não ser feito apenas alertar uma coisa: existem formas e formas de fazer merda, pense bem antes e tenha sempre o controle.

...Mas, no final deu tudo certo.

...Graças às “forças que valem”...


Ok, Tia Brut, “mea culpa, mea máxima culpa”. Um dia eu aprendo, quem sabe.

sábado, 26 de janeiro de 2008

E se...
por Anne Caroline Quiangala

Se a sua mãe não te ama,
se a sua mãe não te ama,
saiba que há um mundo lá fora a ser
[explorado...


E se o mundo é pouco,
E se o mundo é pouco,
Abra a sua caixa de Pandora.

para a Tia Brut

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008



MUNDO DE PLÀSTICO ACINZENTADO

Por Anne Caroline Quiangala

Na verdade ninguém parece interessante realmente.

Seus anseios são estranhamente comuns:

É tudo tão fascinante, mas nada te contamina...

Todos sob frio intenso, nenhum ardor,

Um mundo cinza de plástico, que não existe:

Onde as meninas escondem seus desejos,

Onde todos ignoram os fatos como são (vêem como devem)

O que é o tempo diante dessa hipocrisia?

O que sou diante dessa atmosfera cinza?

Mias uma vez Perséfone deve despertar as flores

Flores de verdade, que possam banir todo o plástico

Dessa forma correta de viver

Em que todos se toleram e ninguém se aceita.

Sem avançar os limites da “boa vizinhança”

E sem inocência das crianças mecanizadas.

Ninguém pode escapar do mundo de plástico,

Ninguém consegue fugir desse círculo vicioso de consumo e aparências

Quem somos afinal, se não meros escravos (espectros)

Acorrentados pela estranha dor do saber e do temer.

Um largo sorriso irônico

O grito silenciosamente ensurdecedor de quem corta os pulsos

Atônito pela verdade não aplicada

Nada é real, oh não!

A falta de beleza dessas, no salão de beleza se plastificando

É deprimente...

Não há prazer nesse mundo sem tato, sem desejo ou sabor...

Na verdade há tudo isso oculto no amor pelo consumo

(amor a si mesmo)

Beijos, dedos – tudo falso.

Dor, amor, flor – tudo falso.

Filosofia, sorriso e lágrima - tudo é falso.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Roteiro do caos:

... efeitos da ‘true old school'...

...precisa mesmo?!...


PRÉVIA - Domingo passado, 20 de janeiro, estava marcado um show underground de thrash e black metal ‘old school’, e eu estava há muito preparada para as possíveis ‘exteriorizações de estilo’ do público. Considerando que no dia 19 fiz 18 anos, aquilo me parecia animador. Aliás, não pelos 18 anos, mas porque fazia mais de um mês – creio – que contava os dias para assistir, finalmente, um show cujo som, realmente fosse do meu agrado.

È fato que, as pessoas no Espírito Santo, não são conhecidas pela simpatia e acolhimento que caracteriza certos estados brasileiros (no geral ‘somos’ fechados, e, quase nada prestativos). Isso quer dizer que, no momento pré-show, quem era desconhecido e vinha cumprimentar deixava claro que era de outro estado. Mas isso não quer dizer que somos misantropos ou monstros do pântano (oops, mangue), pois esse comportamento deve ser oriundo de uma suposta idéia de civilização; creio que o que motiva esse comportamento (o de ‘ignorar tudo aquilo que não lhe compete’), idéia a qual os capixabas seguem com tanto afinco, é, muitas vezes arraigado de tal forma, que passa a ser imperceptível.

A GRANDE QUESTÃO é que tudo parecia transcorrer bem demais, até que um indivíduo no recinto (terceiro andar) perguntou, aos berros, quem era ‘x’ e saiu desembestado, bufando, os olhos inflamando ódio, para surrar outro, um forasteiro, magrelo, bem mais jovem, e, que, aparentemente, não seria ameaça a ninguém, no outro lado da rua. O garoto que foi surrado estava com uma camiseta do Kiss, além de ser alegadamente cristão. O rapaz mais velho, O que surrou, é um trooo metal old school. Devido a isso, inicialmente, comentaram que a ação violenta se deu por conta de divergências religiosas e musicais (Kiss não é considerado true). Sei que, do terraço, ouvi o som das porradas lá na rua. O garoto parecia não saber o porquê de estar apanhando. Havia uma surpresa dolorida na sua face, medo nos seus olhos, mas, ainda assim, não quis ir embora, “pagou pra ver” como se costuma dizer. Nos dias seguintes descobriu-se que a razão da ‘fúria’ era uma discursão pela internet. Sinceramente não sei o que houve, sei apenas que a falta de ponderação desse ‘cara’ representou uma série de aspectos negativos para a cena em geral.Tanto para quem queria assistir e teve que desistir, quanto ao organizador do evento que trouxe ‘banda de fora’. Mais uma vez e de novo o somatório de ações que fecharam outras localidades disponíveis a esse público. Ainda assim, as pessoas sensatas decidiram não entrar, mas o guri permaneceu e apanhou novamente.

ISSO ME FEZ PENSAR no quanto estamos vulneráveis; a qualquer instante, estamos a mercê de surgir uma criatura em desvario e surrar-nos, conforme a sua vontade, conforme o seu ‘bel-prazer’, até porque não costumamos seguir tendências dos outros. Até que ponto as pessoas levam as ideologias... é triste, pensando restritamente ao âmbito do heavy metal, vemos que muita gente leva isso como ideologia, por vezes, como religião.Acredito que ninguém nunca viu isso em outros estilos, ao menos, não com tal ímpeto.Entendo que é um dos estilos mais viscerais, mas não é pra levar a essas instâncias, de forma alguma.Desse jeito,daqui a pouco, todo mundo adota o modo de vida/reação calcado no black metal norueguês.Arrisco a dizer que, nessa província, não há espaço para isso, assim como não há espaço para skinheads e ‘extremismos’ afins.Se for assim, eu como banta,já sou condenada a morte.Fora que,daqui a pouco, um cara que curte mais Alan Moore que Neil Gaiman me bate por conta disso e por aí vai. Sendo que, no final das contas, todo mundo gosta de Vertigo. É irracional, saca?

O que me fez ficar horrorizada, mais que a violência em si, foi o fato de o ser humano se prender às coisas, como que para exteriorizar a ele mesmo da forma mais doentia possível. A música não é para ele um escape, não é uma preferência ‘e ponto’. O descontrole concerne fragilidade, mas isso não vem ao caso. Assusta imaginar esse tipo de ‘cidadão’ caminhando, afinal, não é mistério que armas de fogo não são difíceis de adquirir, e um cara desses ‘irado’ é capaz de matar. Não há justificativa para o que foi feito.Temos que acordar para fatos como esse, porque não são isolados e desconhecidos.Onde largaram o respeito?A cidadania?Os limites?Onde estão as matérias básicas para a boa convivência?É triste ver que as pessoas levam anos para aprender coisas tão simples, e que muitas, morrem sem entender o verdadeiro significado da palavra ‘tolerância’. Quando se ‘canta’ profecias de terceira guerra mundial e colapsos temos como atos de violência gratuita e impune, como essa, uma brutal premissa.

"A filosofia é a seguinte: eliminar todo e qualquer que discorde."

É esse o mundo que desejamos ter?

Posso até parecer exagerada e melodramática, mas uma coisa é certa: essa não é a primeira, bem como não será a última.E a tendência disso é crescer e tomar forma cada vez pior.

TROOO QUE É TROOO usa drogas, não tem fígado de tanto beber, senta nas cadeiras de trás (quer dizer, quando ‘dá as caras’ na escola, o que é raro como o cometa halley), sequer fala com ‘pessoas’ que não pertencem a sua ‘patota musical’ (tribo?!), corrói o joelho andando a vida inteira de All Star ferrado, tem a capacidade de trajar vestes negras e coturno independente do clima infernal de veraneio, usa roupas de épocas remotas, (sobretudo aquelas as quais não viveu), é homofóbico, anti-social, ateu, rebelde, burro, racista, ignorante (se possível com tendências neo-nazistas não alegadas) e, o pior disso tudo, é que acha bonito e faz questão de ser isso tudo. Trooo que é trooo, definitivamente, não é gente com nós.

“E depois nego diz: ROCKEIRO É AGRESSIVO, porque vê uma figura dessas agindo.”

"Esse cara está seguindo à risca a música do Sarcófago 'I hate' "

Doravante a minha utopia palpável:

Show do Chakal em BH esse ano!

“... Como se não tivesse trooo por lá , Anne?!”

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Conto de Anne


Prelúdio

"Voluptous convulsions twisting my soul
So pure and dirty is my passion for you
In my secrets I got my torment
Why did you leave me when I put you my love?
(...)
I still remember that day as if now
You dressed that sweaty blue dress
(...)
So with desire you looked at me
Setencing me with that burning smile
(...)
But you love me, I know that
And tonight your body will be mine
Come with me my sweet little darling
I will show you a new world
Where you never has been before
(...)
Eternity of torture to me
But I don't care if your body is so cold now
(...)
I don't need to carry this fuckin' cross
I'm not trying to be the new messiah
What is moral in this stupid world?
You died for me, won't do the same for you

I will put you all my hate
Show me the delights locked in your mind
You don't need to be afraid
Will make you a woman tonight!"

(Sarcófago -Little Julie)


Seu corpo de menina inerte, sob lençóis gastos, significa um pesaroso fim. O olhar fixo no teto era incapaz de enxergar, se perdia na densidade da escuridão. A tez não trazia o alvor e maciez de outrora, o colo, as mãos e o rosto não eram os mesmos, angelicais. O coração soava tépido, o calor não era mais aquele.
Toda história, no entanto, possui a sua premissa, mesmo essa lenda cruel sobre utopias e desejos. Era isso que o coração vazio trazia à tona, como o despertar de um sonho.
* * *
Devia ter entre treze e quatorze anos, uma atmosfera infantil a cercava. Estava sempre de vestido de algodão em cor viva que combinasse com a fita no cabelo ruivo ondulado, preso em um laço perfeito.
Naquela tarde comum de verão, ela passara em uma loja de CDs para, como fazia sempre, presentear-se. O dono da loja ouvia um som estranho, agressivo, melancólico até, o qual afirmou serem os Rolling Stones na década de setenta. Paralelo a isso, as mãos minúsculas e quadradas, como de bebê, vasculhavam as prateleiras com curiosidade.
Algum tempo depois irrompeu um estranho no estabelecimento. Ele era enorme, possuía barba e cabelo cheios e escuros, tal quais os olhos pequenos que derramavam sobre ela uma malícia incisiva que varria o vestido azul. Aquela compleição máscula exerceu, naquele momento, uma atração como nada antes na vida.
Para uma menina nessa idade, o amor é um cume inalcançável, por isso, ao perceber que apenas o olhar dele a consumia por completo, soube que encontrara o ápice. Ao menos pensava ser.
* * *
Houve vários encontros depois dessa tarde. Através da iniciativa dele (beijos na mão, e frases em tom de sagacidade) desencadearam o relacionamento. Depois foi ela quem passou a ir à loja sempre, para vê-lo. Transcorreram algumas semanas, e então estava consumado, o amor. As intimidades e personalidades mesclaram-se, de modo que uma das almas suprimiu a outra; mas isso não importava, afinal de contas, ela estava cega, como se diz de alguém apaixonado, em subjugamento consentido. Não tardou e logo a jovem abdicou da plena aplicação da utopia pelo ensejo maior.
Isso tudo culminou na total transformação. Ela se tornou outra. Abandonou o vestidinho azul, o calor do sol e tudo mais que anteriormente a caracterizava. A pele logo se tornou candidamente leitosa; os olhos claros foram ocultados por um vidro que os escureciam; os anéis cor-de-cobre se desfizeram e foram tingidos de negro como também as unhas e os lábios. A estrutura corporal não estava completa, por isso foi submetida a um esculpimento cirúrgico, por um amigo do seu homem, que exerceu a função feito um poeta parnasiano. O próximo passo foi vestir as roupas pretas sensuais e provocantes: rendas, meias arrastão e botas de cano longo.
A essa altura, o mito de fetiche estava pleno. A razão de tanta entrega era simples: queria ser a Vênus dele, por isso se entregou por completo às perversões da sua ave de rapina perfeita. Não se importava em ser a presa, a princesa linda, dócil e perfumada, amava-o cada vez mais, como um câncer que se prolifera alucinado, alheia aos próprios “defeitos” antigos. Em troca recebia rosas, uma espécie de oferenda ao fetiche, que, afinal de contas, não passava disso.
O envolvimento perdurou por um longo tempo, mas nesse meio tempo ele retomou com a mulher o noivado, e se envolveu sem que a garota soubesse. A mulher era uma estrangeira de beleza comum. Mais uma com amor simples e puro o qual ele viria a corromper ou desprezar com total indiferença?
* * *
A presa logo descobriu, mas esse capricho não foi capaz de tolerar. Mesmo outrora consentindo tudo exigiu uma resolução complacente após a verdade que era nítida e crua: ele se cansara dela. Em vez de despedida houve uma briga em que ele se revelou outro, não a sua águia majestosa, mas um abutre agourento... que ela amava.
Permanecia na casa precária que presenciara tantos bons momentos. Sobre a cama inalava a sós o odor das rosas podres salpicadas naqueles lençóis obsequiosos evidenciando que o amor fora palpável, entretanto, efêmero. Ela perdera: o amor não estava em suas mãos – se é que havia estado - fora descartada como uma fantasia após o Halloween.
O olhar da mocinha, longínquo e seco, não é mais capaz de distinguir o borrão atroz (olhos secos e incolores não distinguem amor de fantasia), mas aquilo que tentava enxergar não passava do restante do que havia sido seu próprio corpo, degradando como as rosas: um cadáver pútrido que pendia sobre a cama, um móbile grotesco.
Fantasias se extinguem, mas ela continuaria amando a ele pela eternidade. Amor é ruína, amor é suicídio, jamais pensara que fosse, mas as retinas provavam o contrário.

Pois é...


...Que de fato inferno não tem nada, e começo antes de qualquer postagem com o meu 'irreverence life' já no título, manja?
Sim, e o título denuncia o que se passa na tela do meu PC e... é isso, na falta de idéias originais pela manhã, escreva a primeira coisa a frente: é o primeiro episódio da primeira temporada de "Buffy a caça vampiros" , admito.


COMEÇANDO OFICIALMENTE...