sábado, 5 de julho de 2008

Intemperança

Duas fêmeas do mesmo sangue se digladiam. Uma delas é Dúbia, a outra dispensa qualquer tipo de conformidade, e é, absolutamente, Una.

Una tem mente fechada e atitudes permissivas. Dúbia tem oscilações de humor. Una habita um quarto que é um show de horrores, ao passo que Dúbia tende quase sempre ao refinamento...

Una se doa demais, sente as coisas e é fervorosamente apaixonada por tudo e todos que a completam – mesmo não sendo muitos. Sua piedade exacerbada fez-lhe aprender coisas. Seus desejos alcançam estrelas, e escreve cartas (nelas expele toda a sua raiva e descontentamento para com quem a receberá). Ela diz coisas que ferem devido ao caráter letal; deseja grandes pequenas coisas, pois acredita que, para ser feliz, precisa pouco.

Dúbia exala orgulho e arrogância, tanto no andar quanto na fala concisa; sua estrutura é metálica e faz tudo pela aparência... já foi doença, parece melhor disso, mas sucumbe aos vícios mortais. Talvez acredite em Deus e guarde para si segredos e particularidades. Mas ela é duas. Criatura compassiva, ligada à necessidade alheia, dócil, fala amável, preocupação com o outro. Tem em mãos o arco e a flecha, e quer, a qualquer custo, acertar e fazer presa a outra.

A princípio, Una que escala montanhas e é deveras frágil porque sempre sente muito, sem defesas ou armaduras. Ao menos não as visíveis. Dúbia raramente fala sobre amor, mas possivelmente é o combustível que a move. Una é guerreira desarmada porque escolheu este caminho; se pudesse, usaria uma espada longa. Dúbia, por sua vez, está com o olhar fixo, a flecha apontada, prestes a alvejar a rival derramando-lhe o sangue. Sangue este que também é seu.

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A MONTANHA MÁGICA
Legião Urbana

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