domingo, 3 de fevereiro de 2008

Gauche, rogo-lhe

Gauche[*1] rogo-lhe.

Por Anne Caroline de Souza Quiangala João

“If tomorrow never comes

Will he know how much, i love him

Did I try in every way to show him every day

That he’s my only one.”

[*2] (If tomorrow never comes- K. Blazy/ G. Brooks)

Em algum lugar entre o céu e o inferno:

Angélique: Gauche, você é meu desejo máximo, liberte-me!

Gauche: como podeis pedir-me isso?Estás morta!

Angélique: sinto frio, estou perdida, liberte-me!

Gauche: sequer possuo vida, não conheço o sabor dessa seiva.

(Oh! Que Será da virgem desventurada?).

Angélique: somente tu... pois não podes salvar-me?

Gauche: entenda ó jovem que nada ganhará sendo tão arredia com a divindade,

Angélique:imploro-te que me retire desse estado inexistente, dessa dormência glacial...

(oh! Será que desconhece que todos devem um dia morrer?).

Gauche: Saiba, pois que mesmo os anjos choram minha pequenina!Ainda mais que em vida ou na morte nada é gratuito, doce!

Angélique: Ora, ofereço-te meu amor, isso não basta?Deseja ainda mais?Quais são os caminhos que percorrem sua vã ambição?

Gauche: Não seja patética minha querida, sou um espectro daquele que conheceu antes!Não sou o mesmo rapazote e tu não mais me amas como dantes!Todos amam o guardião da Chave nesse momento difícil (apertou os olhos e fitou-a, desconfiado), sobretudo você, bruxa!

(pobre menina sem amanhã, será tua ilusão perpétua?).

Angélique: como podes ser capaz de dirigir-te dessa forma a mim?Logo eu, que confiei a ti meu sangue, meu corpo... Como podes insultar-me dessa maneira?Não tens o direito...

Gauche: ...sem dúvida minha pobre Angélique, adoraria tê-la infinitamente, a presença de teus olhos é devastadora... mas sinto que mentes para mim...mais uma vez, como naquele momento...que prova posso ter desse amor que insiste por vomitar?

Angélique:Pois bem, caro Gauche.Não mais desejo-te...é a noite que ofereço como recompensa...lenta, certeira e repentina como uma cação de ninar!

Gauche: Não vá Angélique... não antes que eu diga...

Angélique: diga?

Gauche: sim, se aceitarias...

Angélique: o quê?

Gauche: abdicar... de tudo...desde o abraço sereno da sua avó até a doce geléia de..

Angélique: claro... mas duvidas tanto assim de mim?Estou morta

Gauche: jabuticaba... por mim...

Angélique:não vês que a muito tento mostrar-te o quanto o amo? Muito antes de a vida ter me abandonado e, mesmo agora que nos encontramos... mas nessa forma não podemos...um abismo colossal nos separa em planos distintos heterogêneos

Gauche: Não se preocupe com isso linda Angélique...

* * *

O rapaz tornou-se homem formoso vestido de preto, abriu uma fenda no ar: assim se fez a porta entre os reinos: limbo e submundo.

Ele a puxou para si.

Sob o vestido branco, Angélique se movia, mas eram seus pés de coruja realmente...

Ela entrou na fenda escura e nunca mais se ouviu falar em ambos como eles mesmos; costuma-se evocá-los como Plutão e Proserpina até hoje.


[*1]Em francês: garoto desajeitado

[*2]Se o amanhã nunca chega/mostrarei a ele o quanto o amei/o quanto tentei de todas as formas mostrá-lo /que é o único para mim

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