quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Roteiro do caos:

... efeitos da ‘true old school'...

...precisa mesmo?!...


PRÉVIA - Domingo passado, 20 de janeiro, estava marcado um show underground de thrash e black metal ‘old school’, e eu estava há muito preparada para as possíveis ‘exteriorizações de estilo’ do público. Considerando que no dia 19 fiz 18 anos, aquilo me parecia animador. Aliás, não pelos 18 anos, mas porque fazia mais de um mês – creio – que contava os dias para assistir, finalmente, um show cujo som, realmente fosse do meu agrado.

È fato que, as pessoas no Espírito Santo, não são conhecidas pela simpatia e acolhimento que caracteriza certos estados brasileiros (no geral ‘somos’ fechados, e, quase nada prestativos). Isso quer dizer que, no momento pré-show, quem era desconhecido e vinha cumprimentar deixava claro que era de outro estado. Mas isso não quer dizer que somos misantropos ou monstros do pântano (oops, mangue), pois esse comportamento deve ser oriundo de uma suposta idéia de civilização; creio que o que motiva esse comportamento (o de ‘ignorar tudo aquilo que não lhe compete’), idéia a qual os capixabas seguem com tanto afinco, é, muitas vezes arraigado de tal forma, que passa a ser imperceptível.

A GRANDE QUESTÃO é que tudo parecia transcorrer bem demais, até que um indivíduo no recinto (terceiro andar) perguntou, aos berros, quem era ‘x’ e saiu desembestado, bufando, os olhos inflamando ódio, para surrar outro, um forasteiro, magrelo, bem mais jovem, e, que, aparentemente, não seria ameaça a ninguém, no outro lado da rua. O garoto que foi surrado estava com uma camiseta do Kiss, além de ser alegadamente cristão. O rapaz mais velho, O que surrou, é um trooo metal old school. Devido a isso, inicialmente, comentaram que a ação violenta se deu por conta de divergências religiosas e musicais (Kiss não é considerado true). Sei que, do terraço, ouvi o som das porradas lá na rua. O garoto parecia não saber o porquê de estar apanhando. Havia uma surpresa dolorida na sua face, medo nos seus olhos, mas, ainda assim, não quis ir embora, “pagou pra ver” como se costuma dizer. Nos dias seguintes descobriu-se que a razão da ‘fúria’ era uma discursão pela internet. Sinceramente não sei o que houve, sei apenas que a falta de ponderação desse ‘cara’ representou uma série de aspectos negativos para a cena em geral.Tanto para quem queria assistir e teve que desistir, quanto ao organizador do evento que trouxe ‘banda de fora’. Mais uma vez e de novo o somatório de ações que fecharam outras localidades disponíveis a esse público. Ainda assim, as pessoas sensatas decidiram não entrar, mas o guri permaneceu e apanhou novamente.

ISSO ME FEZ PENSAR no quanto estamos vulneráveis; a qualquer instante, estamos a mercê de surgir uma criatura em desvario e surrar-nos, conforme a sua vontade, conforme o seu ‘bel-prazer’, até porque não costumamos seguir tendências dos outros. Até que ponto as pessoas levam as ideologias... é triste, pensando restritamente ao âmbito do heavy metal, vemos que muita gente leva isso como ideologia, por vezes, como religião.Acredito que ninguém nunca viu isso em outros estilos, ao menos, não com tal ímpeto.Entendo que é um dos estilos mais viscerais, mas não é pra levar a essas instâncias, de forma alguma.Desse jeito,daqui a pouco, todo mundo adota o modo de vida/reação calcado no black metal norueguês.Arrisco a dizer que, nessa província, não há espaço para isso, assim como não há espaço para skinheads e ‘extremismos’ afins.Se for assim, eu como banta,já sou condenada a morte.Fora que,daqui a pouco, um cara que curte mais Alan Moore que Neil Gaiman me bate por conta disso e por aí vai. Sendo que, no final das contas, todo mundo gosta de Vertigo. É irracional, saca?

O que me fez ficar horrorizada, mais que a violência em si, foi o fato de o ser humano se prender às coisas, como que para exteriorizar a ele mesmo da forma mais doentia possível. A música não é para ele um escape, não é uma preferência ‘e ponto’. O descontrole concerne fragilidade, mas isso não vem ao caso. Assusta imaginar esse tipo de ‘cidadão’ caminhando, afinal, não é mistério que armas de fogo não são difíceis de adquirir, e um cara desses ‘irado’ é capaz de matar. Não há justificativa para o que foi feito.Temos que acordar para fatos como esse, porque não são isolados e desconhecidos.Onde largaram o respeito?A cidadania?Os limites?Onde estão as matérias básicas para a boa convivência?É triste ver que as pessoas levam anos para aprender coisas tão simples, e que muitas, morrem sem entender o verdadeiro significado da palavra ‘tolerância’. Quando se ‘canta’ profecias de terceira guerra mundial e colapsos temos como atos de violência gratuita e impune, como essa, uma brutal premissa.

"A filosofia é a seguinte: eliminar todo e qualquer que discorde."

É esse o mundo que desejamos ter?

Posso até parecer exagerada e melodramática, mas uma coisa é certa: essa não é a primeira, bem como não será a última.E a tendência disso é crescer e tomar forma cada vez pior.

TROOO QUE É TROOO usa drogas, não tem fígado de tanto beber, senta nas cadeiras de trás (quer dizer, quando ‘dá as caras’ na escola, o que é raro como o cometa halley), sequer fala com ‘pessoas’ que não pertencem a sua ‘patota musical’ (tribo?!), corrói o joelho andando a vida inteira de All Star ferrado, tem a capacidade de trajar vestes negras e coturno independente do clima infernal de veraneio, usa roupas de épocas remotas, (sobretudo aquelas as quais não viveu), é homofóbico, anti-social, ateu, rebelde, burro, racista, ignorante (se possível com tendências neo-nazistas não alegadas) e, o pior disso tudo, é que acha bonito e faz questão de ser isso tudo. Trooo que é trooo, definitivamente, não é gente com nós.

“E depois nego diz: ROCKEIRO É AGRESSIVO, porque vê uma figura dessas agindo.”

"Esse cara está seguindo à risca a música do Sarcófago 'I hate' "

Doravante a minha utopia palpável:

Show do Chakal em BH esse ano!

“... Como se não tivesse trooo por lá , Anne?!”

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