segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Divagações de uma ET

Isso não é pra mim...

“o vinho modela os caráteres.Ele é capaz de produzir os estados da personalidade, e isso gradualmente. Pode-se indicar, de acordo com a quantidade de bebida tomada, uma evolução dos caráteres e dos comportamentos. “

Aristóteles – O Homem de gênio e a melancolia (o problema XXX, 1).

O livro acima, eu li na oitava série e trata de uma teoria acerca de pessoas melancólicas que, no caso, são pessoas de exceção, gênios. Dessa forma: essas pessoas atingem diferentes níveis emocionais como um indivíduo que se embreaga, em diferentes níveis, polimorfamente, por assim dizer. A embriaguez é uma metáfora para uma ocorrência fisiológica, mas o enfoque que desejo para o que segue, é, em relação ao álcool mesmo.

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Definitivamente. Você tem que conhecer as pessoas certas. E, muito embora eu esteja falando disso, não quer dizer que tenha aprendido. Não mesmo. Hoje eu cheguei próximo ao que se chamaria de fundo de poço. Aliás, não eu, mas é aquela coisa: está no barco, afunde com ele?!Não quero parecer hipócrita, mas... é verdade isso.

Quando pessoas que pretendem ter banda com você chamam pra sair, mesmo que seja o buraco mais underground ever dessa roça... você vai.Não colocando a culpa na ‘roça’ mas...Mas não, Tia Brut sempre fala: não fale com emos, não seja amiga de ‘roqueiros’, sequer saia com esse povo...e o que eu faço?Bem, ela também fica dizendo que eu chamo todo mundo de ‘cult’ e de ‘alternativo’, o que, no fundo, quer dizer a mesma coisa. E eu acho mesmo: óculos com armação quadrada e delgada, preta, cabelo visivelmente tingido de preto, roupas da moda e... falarei disso em hora oportuna.

Voltando ao madrigal (ou elegia, como preferir) ‘isso não é pra mim’:fomos ver a banda do namorado da suposta vocalista da minha suposta banda de ‘gothic metal’. No tal lugar underground encontramos a fauna típica: metaleiros, roqueiros, thrashers, black metal trooo, góticos, emos e “gente como nós”.Tocariam bandas de grind, gore, black metal(argh 3vezes) e power (ufa?!).Ah, mas, para minha alegria havia uma banda cover de Sarcófago, e eles tocaram ‘Midnight queen’ (uma bosta,mas, pra quem não viveu nos anos 80, fiquei feliz já, óbvio)

Nesses ‘rocks’ undergrounds tudo é bem liberado e, acostumando-se a freqüentar tais ambientes, chegamos ao nível de não nos ‘dar-mos conta’ de certas coisas que se passam – coisas que, aliás, não nos dizem respeito...?!

De fato eu li o Problema XXX de Aristóteles, e claro, não me ative à guria ‘suposta vocalista’. Dezesseis anos, vida desregrada. Minha atenção era totalmente voltada às bandas, e, nos intervalos, à TV que exibia show do Slayer e do Deicide. Não me dei conta de cada dose de vinho, de cada copo de cerveja que me era oferecido, mas dos quais recusava com um simples gesto de cabeça, atônita pelos shows, e que a garota sorvia só. Não me dei conta do que se passava com ela; “se precisar de mim estou aqui” ela repetia milhares de vezes. Na hora eu vi como paranóia, afinal, quem era a maior de idade era eu. Depois fiquei divagando se, por acaso, isso contivesse um bruto anseio dela mesma, de ser cuidada, de ser protegida. Mas nada tão sério, tão profundo.

Nas idas e vindas dela, a escala de ebriedade se tornava mais e mais alta.

Não percebi. Por que não associei a alegria dela à teoria? Por mero descuido?Falta de zelo? Seria uma falta, descaso? Eu não me importava ou se tratava de total e macabra falta de altruísmo da minha parte? Hum, talvez eu não seja o anjo que imagino ser, entretanto, como disse Aristóteles (discurso livre): nada é, em si, absoluto, uno, as coisas são todas multifacetadas, até mesmo (de certa forma) cubistas – se é que me entende. Nada é apenas aquilo, tudo é relativo e mutável.

OK, ela bebeu, e muito. Deu vexame e tudo, mas o namorado agüentou as pontas na boa. Logo ele a quem ela queria deixar ou trair, ele se importa com ela. Detecção de mais um dos ‘males’ que afligem o ser-humano: mania de desvalorizar aquele que, realmente, o valoriza. Enfim, ela foi passando pelos estágios, pelos caracteres possíveis, e , quanto a mim, obeservava como se tudo estivesse sob controle, afinal, não sou do tipo que se alarma.

Íamos para casa. Enquanto esperávamos a carona, a garota começou a passar mal. Estava em plena crise de asma, mas, ainda sim, queria conversar com o outro ‘suposto guitarrista’ como se fosse “... a única chance”. Nisso iniciaram os desmaios, veio o desespero geral.Aí sim, me dei conta da ópera.A cada amolecer e voltar, ela parecia pior.Estava na iminência de coma alcoólico, e o namorado, maior de idade, na iminência de ser preso, porque seria o responsável por ela. Era tarde, eu sentia que poderia ficar pior. Por fim, vomitou. De início algo, mas, pra quem não tinha almoçado, restava vomitar a bile.

O calvário Apoteótico – de alguma forma eu sentia que, a qualquer momento, em meio àqueles desmaios e regressos, ela acabaria por afogar-se no próprio vômito.Conseguia vê-la morrer...ela parecia estar morrendo.Parecia que, a cada desmaio, a cada arfar asmático, a via se desprendendo do mundo pra sempre.

Eu queria dizer pra ela algo que a ajudasse, mas, é possível que seja mensagem para o vento. Queria dizer algo sem parecer uma tola pseudo-burguesa. E eu diria algo assim: “Ei moça, você tem que lembrar que não tem pai e mãe. Tem que lembrar que o seu namorado se importa com você, que pertence a uma boa família. Não sei se é falta de instrução, mas, a sua concepção do que é ser mulher deveria ser expandida. Ser mulher é muito mais que ser virgem ou não, muito mais que se entregar à “liberação”. Não quero dizer o que deve ou não ser feito apenas alertar uma coisa: existem formas e formas de fazer merda, pense bem antes e tenha sempre o controle.

...Mas, no final deu tudo certo.

...Graças às “forças que valem”...


Ok, Tia Brut, “mea culpa, mea máxima culpa”. Um dia eu aprendo, quem sabe.

Um comentário:

Bruna disse...

É O RÓQUI INSANO INVADINDO A CABEÇA DAS PESSOAS.

Porra, ainda bem que não sinto a necessidade de ter esses comportamentos de rockeiro.